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domingo, 29 de março de 2009

A ARCA DE NOÉ



L. M. Honesto, era prefeito de uma grande cidade de um país de um dos maiores continentes do planeta Terra. Carinhosamente, era chamado por todos apenas de Honesto. Ele era um exemplo para todos. Um ser humano que só se podia conceituar atualmente como um homem justo. Particularmente, era um apaixonado pela organização de forças de combate e pelo uso de armas avançadas, tais como canhões laser, pistolas desintegradoras, mísseis inteligentes, impossíveis de serem interceptados por causa de seus campos de força especiais e que eram guiados pelo calor humano, e também a última novidade bélica - A bomba química, que uma vez lançada, ao atingir o alvo, liberava vírus mortais capazes de aniquilar nações inteiras sem deixar absolutamente nenhum vestígio! Ele era um líder nato para os padrões de sua época. Um dia, ele caminhava pelo calçadão da praia, quando de repente, de seu fone de ouvido conectado ao seu celular via Bluetooth, um vozeirão se fez ouvir:

- HONESTO!

Ele imediatamente estremeceu.

Só podia ser o Criador!

Quem mais teria aquela voz?

-HONESTO, a voz trovejou:

-NÃO ESTOU CONTENTE COM OS HOMENS. ELES ESTÃO INSENSIVEIS E POLITIZADOS DEMAIS. GUERREIAM ENTRE SI E SÓ DEFENDEM OS INTERESSES PRÓPRIOS. DA MINHA INTENÇÃO QUANDO CRIEI ADÃO E EVA, NÃO SOBROU NADA E ACABOU DANDO NISTO...

-ANTES EU FIZ CHOVER DURANTE 40 DIAS E 40 NOITES, ATÉ COBRIR A TERRA DE ÁGUA, O QUE ACABOU POR SER CONHECIDO COMO 'O DILÚVIO', MAS DESTA VEZ SERÁ DIFERENTE.

-VOU MANDAR UM METEÓRO DE GIGANTESCAS PROPORÇÕES SE CHOCAR COM A TERRA E TUDO ACABARÁ EM FOGO, EM QUESTÃO DE SEGUNDOS. QUERO QUE NASÇA UMA NOVA HUMANIDADE, DE HOMENS MAIS SENSIVEIS E INTELIGENTES, PRÁTICOS E OBJETIVOS.

-VÁ! CONSTRUA UMA NAVE ESPACIAL, PARA TI E PARA A TUA FAMÍLIA E LEVA PARA DENTRO DELA UM CASAL DE CADA SER VIVO DESTE PLANETA.

-TERÁS CENTO E VINTE DIAS PARA ESTE EMPREENDIMENTO. O MEU CONTATO CONTIGO, SERÁ SEMPRE VIA E-MAIL ATRAVÉS DO ARCANJO GABRIEL.

O fone de ouvido emudeceu...

Honesto imediatamente começou a pensar. O Criador o elegera gerador da nova Humanidade! Que grande oportunidade lhe caiu do céu! Todas as suas ideias daquele momento em diante, seriam direcionadas a programar o futuro da humanidade! Mas, Honesto não conhecia nada de naves espaciais, muito menos de navegação interestelar! Quatro meses... Era muito pouco! Ele tinha que resolver um problema técnico, como construir uma nave enorme. Que incumbência!

Honesto vasculhou o banco de dados de sua memória. Conhecia um engenheiro espacial que se chamava Noé. Ele poderia sem dúvida construir para ele a nave que levaria a humanidade a outros mundos em busca de um novo lar. Honesto seria o coordenador do empreendimento (que demais!) e Noé seria o elemento técnico desta proeza. Tão rápido como pensou, tão rápido ele fez. Foi falar pessoalmente com Noé.

- Meu caro amigo de tantos anos - falava Honesto com propriedade - quero encomendar-lhe uma nave espacial, mas não uma nave qualquer, a maior já construída!

- Sim, senhor, mas de que tipo, para que tipo de carga e para qual destino?
- Ora, ora Noé, isto são só meros detalhes. É uma nave para grande carga e para o espaço aberto. Para uma viagem interestelar! Quero fazer uma longa viagem com a família em busca de outros mundos e levarei tudo que possuo.

- Está bem, senhor. Temos aqui mesmo, na siderúrgica onde trabalho, Titânio de ótima qualidade e densidade, em quantidade suficiente. Acho que consigo arranjar dez bons metalúrgicos, dez bons maçariqueiros, dez técnicos em engenharia espacial e assim conseguirei construir sua nave.

Mais tarde, Honesto chamou G. H. Larápio, o funcionário padrão de sua empresa.

- Larápio, como você já deve saber, vamos construir uma enorme nave espacial...

- Sim, chefe, ouvi mesmo o Senhor dizer algo a respeito.

- E o que você me diz de tomar a frente e coordenar a obra?

- Beleza! Pode deixar comigo, patrão. No recrutamento da última batalha que lutamos contra o “aquele” país, pagamos sete mil reais a experts em armas biológicas e estes, são apenas metalúrgicos e trabalhadores braçais. Nosso departamento de R.H. tem cinco recrutadores e quinze examinadores, para esta primeira fase de seleção!

- E quanto você acha que devem ganhar?

- O salário desta equipe vai variar entre dez e doze mil reais, por serem especialistas. Chefe, só há um pequeno problema que precisamos resolver. Não vou assumir as responsabilidades com o numerário, além do mais, não sou mesmo bom em contabilidade. Não acha melhor termos uma pessoa qualificada para a gerência financeira de seu empreendimento?
- Bem lembrado meu acaro Larápio! Mas há outro problema. Não conheço nenhum que se enquadre no cargo e deve ser um homem de confiança!

- Ok chefe! Mas sempre podemos fazer uma seleção entre vários candidatos. - Fique tranquilo e deixe também isto comigo! Vou já providenciar os primeiros passos.

A cada dia, o empreendimento crescia mais e mais. O R.H. e suas equipes de recrutamento e seleção já estavam trabalhando de vento em popa. Depois de muitos candidatos, todos reprovados, alguém foi nomeado para o cargo por indicação de Larápio e as finanças finalmente já tinham um responsável. Mas onde colocar todo o pessoal que estavam contratando? Honesto, com o seu habitual dinamismo, adquiriu por indicação de Larápio através de um financiamento, um imenso galpão onde antes havia sido uma fábrica de aviões que estava desativada, contratando de imediato, para maior controle, pessoal de supervisão e segurança. Claro, por indicação de Larápio.

Uns tempos depois, na sala da presidência o interfone tocou.

-Senhor Presidente - falou a graciosa e sexy secretária e recepcionista. - Está aqui o Sr. Noé, o engenheiro espacial. Ele trouxe alguns desenhos para lhe mostrar e...

- Menina! Já não lhe disse para não me interromper? Diga ao Engenheiro Noé que marque um horário e volte outro dia.

O interfone tocou novamente e a secretária disse que o Senhor Larápio estava ao telefone. Honesto atendeu imediatamente.

-Pois então, meu caro amigo Larápio, meu amigo e parceiro nesta jornada, preciso cercar-me de gente de absoluta confiança para o sucesso de nosso empreendimento.

- Claro meu querido chefe! Sabe que pode confiar em mim em qualquer situação, mas o armazenamento das chapas de Titânio que vão ficando prontas necessita de um almoxarifado adequado e de um bom almoxarife para controlar as entradas e saídas de material. Para maior controle, preciso de um computador, uma impressora nova, além de alguns arquivos, prateleiras de grande porte e pessoal de apoio.

- Perfeito meu caro Larápio! Encomende tudo que precisar e supervisione você mesmo todo o processo de recrutamento e seleção de pessoal.

Naquele momento, entrou Shirley, a secretária do Presidente. Larápio aproveitou a chance e afastou-se de fininho.

- Senhor Presidente, o Engenheiro Noé passou vários e-mails e tem ligado constantemente tentando marcar um horário, mas de acordo com suas ordens, disse a ele que sua agenda esta lotada nas próximas semanas. Tenho a nítida impressão de que ele estava aflito para a aprovação de alguns desenhos.

- Ora, este Noé! Que cara insistente e inconveniente! Ele anda precisando de uma boa dose de Semancol! Esta constantemente querendo me confundir com detalhes sobre densidade e espessura das chapas de Titânio e outras bobagens que acha relevantes sobre a carcaça da espaçonave. Ele deveria saber que sozinho não posso e nem quero me responsabilizar pela aprovação desses desenhos. Faça o seguinte: Envie um e-mail a ele e diga que nomearei um Grupo de Trabalho da Nave, o GT-NAV, para me dar o parecer. O cara sem dúvida nenhuma é bom em projetos, mas não entende nada sobre custos ou de administração financeira!

Quinze dias se foram e o organograma proposto já estava na mesa do Presidente. Na mesa de Honesto, havia relatórios de todos os departamentos criados por ele com a ajuda de Larápio, sendo que os mais ativos nos processos eram o da Diretoria das Coisas (DC), o dos Investimentos (DI) e o do Grupo de Trabalho da nave (GT-NAV).

A Diretoria das coisas, já tinha montado um laboratório especializado para a medida de densidade das placas de Titânio e analise de comportamento fora da atmosfera. A Administração, em apenas vinte dias, já tinha preparado as provas de seleção para arquivistas de desenho espacial, para a seleção do pessoal de apoio ao recrutamento, entre outros cargos criados por Larápio no processo de organização geral do empreendimento de Honesto.

Certa tarde, Honesto estava exausto, mas não pôde esquivar-se de receber Noé que o procurou em sua residência.

- Senhor Presidente, perdoe o atrevimento de vir até a sua casa atrapalhando o seu merecido descanso, mas o projeto já está pronto e maioria das pessoas mais necessárias à sua execução ainda não foram nomeadas. O material já está especificado, porém o laboratório ainda não emitiu o laudo de aprovação do Titânio a ser usado e não consegui os metalúrgicos especializados para o corte e montagem das placas... Se o senhor pudesse autorizar-me a trazer os profissionais que conheço para não perdermos mais tempo...

- Cara! Isto não é uma sangria desatada! (Falou Honesto) Não se preocupe Noé. Falarei amanhã com o pessoal do R.H. e apressarei a contratação do pessoal. Noé, nem mesmo sendo o Presidente desta empresa, não posso mudar as normas da organização autorizando diretamente a contratação do pessoal! Normas são normas meu amigo! Sossegue! O empreendimento está nas mãos dos melhores profissionais e sob a supervisão do meu fiel Larápio! Boa noite, Noé, o mordomo o acompanhará até a porta de saída...

Noé afastou-se confuso. Ele não estava entendendo nada. Tinha sido convidado para construir uma nave espacial e agora estava se vendo às voltas com normas, instruções, exames de seleção e uma imensa quantidade de questões burocráticas etc...

Trigésimo dia - A manhã estava radiante. Shirley anunciou a chegada de Larápio.

- Entre meu velho e fiel amigo! Sente-se. Aceita um licor especial ou prefere água mineral?

- Sim, chefe, aceito a agua mineral obrigado! Por falar nisso, mandei distribuir agua pura a todos esta tarde, mas para isso, foi necessário adquirir três caminhões carregados de garrafas de PVC de uma fonte nova para sair mais barato, além de alugar um espaço para estocar a agua e contratar cinco pessoas para trabalhar na organização da distribuição aos funcionários.

- Você é máximo na administração de pessoal Larápio! Esta definitivamente merecendo uma promoção! Graças a você, já temos quinhentas pessoas no efetivo e todas passaram por suas mãos! Que capacidade você tem!

- Meu caro Larápio, não quero incomodá-lo e nem em pensamentos desfazer o belíssimo trabalho da sua equipe, mas o Noé disse que ainda não foram contratados os maçariqueiros para o corte e moldagem das placas de Titânio...

- Chefe, o engenheiro Noé é um sonhador. Só pensa nos seus projetos e desenhos. Já lhe expliquei inúmeras vezes a complexidade e a seriedade do processo de contratação. Apenas como exemplo, já aumentamos a oferta para nove mil reais, mas todos os metalúrgicos especializados em corte e moldagem de placas de metal foram reprovados no primeiro psicotécnico. Se não passam nem mesmo neste exame, imagine nos demais!

- Esta certo! Você tem toda a razão, Larápio. Noé nem de longe imagina o que seja efetivamente é uma boa organização. Oriente e faça as coisas como achar melhor. Se contratei seus serviços e lhe atribui tamanha responsabilidade, é porque tenho total confiança em você e em seu trabalho...

Quadragésimo quinto dia - Finalmente iria ser realizada a primeira reunião de Direção. Era o momento crucial de onde sairiam as grandes decisões de cúpula do empreendimento. O Presidente, empolgado e satisfeito, relatava que o empreendimento era o orgulho da nação. Havia enfim, depois de tanta crise, muito trabalho e emprego para todos. O Diretor da Nave ponderou que faltava papel para o desenho e que a eficiência dos metalúrgicos admitidos era baixa. Noé tentava suprir a falta desenhando em pedaços de papelão e pessoalmente cortava chapas de Titânio à noite, após o expediente. Quando o Diretor da Nave propôs aumentar o salário de Noé para quinze mil reais o Diretor das Coisas explodiu e foi seguido de perto pelo Diretor dos Investimentos que quase teve um enfarte.

- Isto é um absurdo! Estes técnicos não funcionam e ainda querem aumento! Senhor Presidente, um minuto de sua atenção! Sou de opinião que devemos aumentar a equipe de recrutamento e apertar as provas de seleção.

- Desculpe interromper! - retrucou o Diretor da Nave - Acontece que não temos o apoio que precisamos. O senhor está simplesmente desviando recursos para a área de operação da espaçonave, recrutando pilotos, navegadores, etc.

- Mas é claro! - interveio o Presidente - Temos que agir com antecedência no treinamento.

No Octogésimo dia - Honesto passeava pela praia, cercado de seguranças pessoais. Ele estava orgulhoso. Era Presidente de um empreendimento que já contava com duas mil e duzentas pessoas. As preocupações de Noé eram absurdas e infundadas. Não passava de um tecnocrata aloprado e pessimista. Felizmente já haviam contratado o Diretor da Nave para despachar com Noé - Um aborrecimento a menos para ele. Subitamente, o alerta de mensagens SMS de seu celular soou!

- Era um torpedo do Arcanjo Gabriel! - Ansioso Honesto se pôs a ler a mensagem:

"HONESTO! PONHA PESSOAS DE PESO NO TOPO, CASO CONTRÁRIO, O EMPREENDIMENTO IRÁ À FELÊNCIA!"

Honesto que iria passar a tarde fazendo caminhada mudou de opinião. Atravessou a rua e dirigiu-se para o apartamento de Noé.

- Noé, Noé, mude seu projeto! Ponha outra cabine atrás da cabine de comando que já fica na ponta da nave. Vou colocar nela as pessoas mais pesadas!

- Mas, Presidente, isso é inviável! Eu digo mais ainda! É impossível!

A área do bico na espaçonave deve ser sempre a mais leve. Se aumentarmos a massa do topo, a nave vai emborcar!

- Não discuta comigo, Noé. O Arcanjo mandou colocar homens pesados no topo e é isso que vou fazer... E não discuta! Cumpra as minhas ordens!

Noé não retrucou. O Presidente estava irritado e nervoso. Noé correu à Secretaria Geral, mas lá encontrou o Comandante de Operações da Nave, que já o esperava há quase três horas.

- Noé - disse o Comandante - o seu projeto não sai do lugar! Vou treinar os meus homens sem nave? Vou ser obrigado a pedir a aprovação do Presidente para adquirir um simulador, caso contrário não me responsabilizo pelo que vai acontecer.

Noé balançou a cabeça e saiu. Realmente o que ele conseguira até aquele momento? Uma dúzia de desenhos em folhas de papelão por falta de papel para seus projetos? Isto em oitenta dias. Que mais ele poderia esperar? Estava acabrunhado. Do jeito que as coisas andavam, ele estava começando a se sentir um incompetente. Mas o que estaria errado?

O Presidente entrou em sua sala, furioso e desabafou com Shirley.

- Veja só! Faltam apenas quarenta dias e a Divisão de Importação, diz que há crise de transporte e as peças necessárias para a montagem e que são fabricadas no exterior só chegarão no prazo médio de dez dias! Quase berrando ele ordenou: Quero uma reunião de emergência com os diretores. Vou despedir os metalúrgicos admitidos e contratar outros. Se não fosse o Larápio com a equipe de recrutamento, não sei o que teria sido.

- Mas, Presidente, perguntou Shirley. Faltam quarenta dias para quê?

- Para o fim do mundo minha filha, para o fim do mundo!

- Não falo com subordinados, não vou usar o Arcanjo Gabriel como intermediário entre mim e o Criador, portanto, cale esta boca e envie o seguinte e-mail para o dono da boiada:

De: Honesto

Para: O Criador

Solicito prorrogação prazo restante 40 dias. Dificuldades difíceis de serem superadas de imediato. Crise internacional de peças e componente eletrônicos. A sua benção, Honesto.

O ruído monótono de Shirley digitando o e-mail deixava Honesto ansioso, mas a resposta veio finalmente:

De: O Criador

Para: Honesto
CONCEDIDO PRAZO DE APENAS MAIS CINCO DIAS IMPRORROGÁVEIS. METEÓRO A CAMINHO.

Honesto desesperou-se e correu para a reunião. Shirley, pelo telefone interno, espalhou a história do cometa chegando. O Pânico foi geral.

Octogésimo segundo dia.

- Shirley! Ligue para o Larápio imediatamente.

-Larápio? Aqui é o Presidente.

-Já recrutou e contratou os metalúrgicos e novos técnicos?

- Infelizmente, não passam nos testes, meu chefe. Até já afrouxamos as provas, mas o exame de reconhecimento de tipos degeneração dos metais no espaço sideral reprova todos!

- Presidente - interrompeu Shirley que parecia nervosa. É urgente: há dois fornecedores de agua na antessala e dizem que há uma crise nas fontes de água mineral e não vai haver distribuição aos funcionários durante uma semana. O suprimento não providenciou estoque de água durante a seca das semanas anteriores...

Qual é a sua decisão?

Centésimo dia.

- Senhor Presidente - disse o Diretor dos Investimentos - dentro de uma semana vencem os nossos empréstimos internacionais, com as nações vizinhas, e o caixa não é suficiente. O nosso empreendimento economicamente vai muito bem, mas financeiramente... Estamos em crise. Sugiro uma redução de pessoal...

- Senhor Presidente - tentou timidamente o Diretor da Nave - Acho que o Diretor dos Investimentos tem razão, mas não prometemos ao CRIADOR que a nave estaria pronta em breve?

- Mas... Sem material?
- Como posso fabricar as peças que faltam? - gritou o Diretor das Coisas - o seu laboratório não acha a liga ideal de Titânio no estado e há crise de transporte! Os torneiros mecânicos são incompetentes... E esse tal Noé! Que fez ele até agora? E ganha dez mil reais...

- Senhores! - falou gravemente o Presidente. Todos o olharam esperançosos. - A situação do empreendimento é razoável, mas temos que tomar uma atitude mais séria quanto ao projeto da nave...

- Presidente, não quero interromper, mas nos nossos arquivos não constam os exames de admissão de Noé e nem sabemos se ele é engenheiro espacial!...

- Sim, a culpa é minha - falou o Presidente - mas quando convidei Noé ainda não existiam as normas do empreendimento. Sou, portanto, obrigado a despedi-lo. Queira providenciar isto através do Larápio.

Noé ficou realmente furioso com a notificação. Ele estava disposto a sair daquela terra e o caminho mais fácil era atravessar o parque da cidade a pé. Partiu para a sua casa e reuniu a família e os parentes.

- Vamos nos juntar e executar o projeto da Nave por nós mesmos e sair logo daqui!

- Mas, Noé, não somos metalúrgicos, nem sabemos fazer naves espaciais...

- Não importa. Eu ensino vocês a cortar e emoldurar as chapas, pregando-se umas nas outras... Quanto às outras peças e componentes eletrônicos, usaremos o que tivermos à mão, e já que tenho os desenhos. Faremos uma corrente e construiremos uma nave para tentar uma vida melhor, bem longe daqui! Por medidas de segurança, levaremos alguns animais a bordo na viagem. Nunca se sabe que tipo de dificuldades poderemos encontrar por lá.


Mãos à obra!

Em poucos dias a fuselagem da espaçonave já tomava forma. No centésimo vigésimo quinto dia - O Presidente acordou assustado e preocupado. As peças importadas haviam chegado, mas só havia três funcionários no setor de montagem. Seu chofer seguiu o caminho mais rápido para o escritório, para evitar transito engarrafado e o mau tempo. A luz do sol já estava sendo ocultada pela silhueta do imenso meteoro. Nuvens pesadas cobriam os céus. Honesto dirigiu-se diretamente à recepção, mas Shirley só chegava às dez horas. Frustrado ele dirigiu-se ao Centro de Processamento de Dados e ao chegar lá ficou atônito com o que viu.

- O que se passa aqui? Não começou o expediente?

-Quem Diabos é você?

-Sou do "telemarketing", senhor.

-Respondeu a jovem que estava sentada numa das mesas. Já faz dias que não há ninguém. Dizem que, com esse plano de classificação de cargos e salários e com essa política de promoções, não para ninguém em sua empresa... Se for de seu desejo, eu vou localizar a sua secretária...

Por um breve momento, Honesto esqueceu todos os seus problemas e falou consigo mesmo: - Que diabos de língua fala essa jovem? "Telemarketing... Vou localizar..."?

O que ela quer dizer com isso?

Mas logo voltou à realidade e disparou em direção ao seu escritório. No caminho encontrou Larápio que lhe disse preocupado haver ouvido burburinho sobre uma noticia de que o impacto do meteoro com a Terra era eminente. Que poderia ser apenas um boato, mas por via de dúvidas, ele e sua equipe...

Honesto não esperou ele terminar.

Ficou branco e correu em direção à recepção.

Shirley finalmente havia chegado.

- Shirley! Rápido! Passe um e-mail agora!


De: Honesto

Para: O Criador

Dificuldades com projetista atrasam empreendimento. Solicito prorrogação do prazo.

A resposta foi imediata:

De: O Criador

Para: Honesto

PS: Favor acusar o recebimento desta!

PRORROGAÇÃO NEGADA.

Naquele mesmo instante, começou a cair na Terra uma chuva de pequenos meteoros que já causavam destruição em alguns pontos do planeta. Honesto saiu correndo arrastando Shirley pelo braço, seguido por Larápio. Tudo que se via era a escuridão amenizada apenas pelas luzes que se acenderam fora de horário. Os três entraram na Pick-up do Presidente e saíram em uma velocidade insana. Por todos os cantos caia uma chuva de fogo. Olhando-se para o céu, já era possível de ser ver nitidamente os contornos do imenso corpo celeste que se aproximava mais e mais. Em pouco tempo já estavam numa rodovia quase não utilizada, e no caminho, quando passavam próximos da Usina onde Noé trabalhava, a chuva de fogo foi aumentando gradativamente e quando a Pick-up ia ser atingida por um enorme bloco de massa incandescente, Larápio ainda teve tempo de gritar para o chefe, apontando para o outro lado da estrada:

Chefe veja aquilo!

Há uma nave decolando nos fundos daquela Usina e você não vai acreditar no que esta escrito nela!

Mal ele acabou de falar e seu chefe de olhar para onde ele estava apontando e o veículo foi atingido.

Na fuselagem da nave, que agora ascendia os céus rumo à salvação da raça humana, enfrentando e vencendo bravamente a chuva de pequenos meteoros que se abatia sobre ela, carregando Noé, sua família e vários casais de animais que eles haviam conseguido juntar nos zoológicos da cidade antes de partir, estava escrito em letras garrafais:

ARCA DE NOÉ!


Autor: José Araújo


























































































































domingo, 8 de março de 2009

ESCRITORES FALAM SOBRE SÃO PAULO



UNIVERSO PAULISTANO, com lançamento marcado para dia 14, reúne contos inéditos de 44 autores, a maioria deles iniciantes.

Como não poderia deixar de ser, a maior metrópole do País é uma cidade plural em tudo: arquiteturas, formas, raças, credos, climas... Quem vive nela já está acostumado a sair de casa com sol às sete da manhã, abrir o guarda-chuva às nove, às onze vestir o casaco e às cinco tornar a sentir calor.

Cada paulistano — nascido em São Paulo ou adotado por ela — reclama diariamente, e a seu jeito, das peculiaridades desta metrópole. Contudo, ninguém se arrisca a abandoná-la com medo de deixar nela seu coração enquanto o corpo migra para outro lugar. No Pátio do Colégio, afundem o meu coração paulistano, dizia Mário de Andrade. Se Mário disse, é porque é.

Os amantes da Pauliceia ganham mais um instrumento para expressar sua paixão. No próximo dia 14, será lançada pela Andross Editora a antologia Universo Paulistano – Contos, crônicas e poemas de uma cidade que nunca dorme, escrita por 44 autores, a maioria da Capital, e também alguns que há muito se foram, mas continuam com seus pensamentos voltados à grande metrópole.

Os organizadores Edson Rossatto, editor da Andross, e Carlos Francisco de Morais, professor de Literatura, analisaram cerca de 300 textos até chegar às 54 obras selecionadas.

O Viaduto do Chá era a passarela da maior parte de minhas assombrações. O homem das gaitas. Sempre lhe ouvia a gaita antes de lhe vislumbrar o rosto. A índia sentada ao pé da mureta do viaduto com um pano estendido no chão, coberto por peças de artesanato indígena. O filho de pés descalços e sujos escondia a cabeça sonolenta no ombro da mãe índia. O pai-de-santo com seu banco e seus búzios gritava obscenidades aos que passavam por ele. Tantas cartomantes: brancas, negras, gordas, magras. Não descreverei aqui cada assombração, pois descrevê-las significa recordar; e, ao recordar, meu peito parece ficar mais pesado.

A São Paulo invisível, de Maíra Martins


LANÇAMENTO


Universo Paulistano – Contos, crônicas e poemas de uma cidade que nunca dorme

Organização: Edson Rossatto e Carlos Francisco de Morais

DATA: 14 de março

LOCAL: Espaço WN - Rua Jorge Augusto, 668 – Penha - São Paulo –SP (Próximo ao metrô Vila Matilde)

HORÁRIO: das 16h às 20h

Sobre a Andross Editora

Com quatro anos de mercado e 35 títulos publicados, a Andross Editora nasceu no campus da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, para abrir espaço no mercado aos alunos que não tinham condições de publicar seus primeiros textos. Iniciou as atividades com obras acadêmicas, mas cresceu e se manteve no mercado graças a um modelo de negócio diferenciado: a publicação de antologias. Até hoje, a editora já lançou 19 livros deste tipo, e está com inscrições abertas para mais sete até o final do ano.

Mais informações para a imprensa:

Edson Rossatto

(11) 8217-6191

(11) 2943-7687

edson@andross.com.br

http://www.andross.com.br/

MSN: edsonrossatto@hotmail.com

Skype: Andross Editora